QUANDO EU MORRER

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QUANDO EU MORRER, não queria morrer, mas, MATEM-ME MAIS*
Obedes Lobadias
Quando eu morrer, não digam mais nada. Não façam mais nada. Apenas conformem-se. Pois nem agora em vida, vocês conseguem fazer algo por mim. O que adianta dizerem, se não irei vos ouvir? O que adianta fazerem, se eu não irei gostar, muito menos ver.
Eu não farei falta em ninguém: sei. Pois nem agora não estou presente em ninguém.
Sim! Não digam nada, nem façam nada. Pois estou-lhes dando tempo aqui e agora para que o façam enquanto eu posso ainda vos ouvir, responder e agradecer e acima de tudo retribuir, mas nem nada vocês fazem.
Eu não vi melhor coisa que vocês conseguem fazer, mais do que passar a vida e o tempo falar mal dos outros, apedrejar os outros e muitas coisas que não existe adjectivo mais porco para identifica-las… Estou quase acreditando que vocês tem mais de 24 horas, senão não perderiam tempo.
Se não leem agora, não leiam nunca o que escrevo, pois se vos escrevo hoje, é para poder esclarecê-los quaisquer dúvidas. Pois ninguém, melhor o fará e por mim.
Até os elogios que não se pagam nem a metade do preço do cigarro e da cerveja que vocês preferem, além dos livros e discos originais, vocês os pouparam… Preferiram-me dar o vosso silêncio e cheio de chios e insultos.
Quando eu morrer, não adianta chorarem, pois vocês jogaram na minha cara que eu nunca vos fiz sorrir.
Não digam que me amaram, pois se for para isso eu terei a coragem de me levantar do meu corpo já sem vida, para desmenti-los, pois em vida, vocês jamais demonstraram-me sintomas de tal amor.
Quando eu morrer, não desejem nem queiram que eu descanse em paz, pois nem agora, vocês querem que eu viva em paz. Aliás, não digam qualquer destas palavras de enfeitar mortos.
Não plantem em mim, nenhuma flor. Pois nem vocês viveriam por cima de mortos. Deixem cada coisa no seu lugar.
Quando criança, deram-me as raízes sem flor, e quando amei, deram-me a flor sem raiz. Nunca alguma vez alguém me ofereceu toda a árvore. Explico: nunca quiseram que eu crescesse, mas um dia estarão bajulando-me para ter os frutos da árvore que negaram a água para irrigá-la.
Os jornais que sempre me negaram espaço para desabafar e dar o meu contributo para moldar o mundo quererão colocar-me nas suas capas e encher colunas das suas páginas para vender mais papel. As televisões que negam-me o espaço e tratam-me com desprezo, e ainda cobram-me sopinhas para sustentar-se, ganharão mais audiência falando da minha morte, a mesma que tiveram medo de não tê-la quando quis mostrar-lhes o meu talento, que se limitavam em dizer que o tenho como se eu não soubesse. Outros irão partilhar este texto para ganhar nome e outra coisa que a mim, pouco vale.
Os meus contos, romances, poesias, cronicas e outros escritos, não deem a nenhuma dessas editoras que querem mais dinheiro morto que arte e a cultura vivas.
Não se declarem meus amigos, pois nunca o foram. As moças que perderam o tempo me paquerando nas redes sociais, digo: amem os vossos homens. Pois eu tenho a minha mulher: a Velma. Aos homens que sempre apreciaram a minha esposa, digo: ainda existem mulheres para casar, basta procurar. Mas não procurem a Velma, é tão minha.
Aos meus amigos e admiradores no Brasil, Alemanha, Itália, Angola e Portugal, e resto do mundo é bom tê-los. Aqui em Moçambique eu sempre fui estrangeiro, pese embora pouca parte tenha notado a minha existência. A estes digo: sejam ricos como os vossos dirigentes, mas não sejam arrogantes e gananciosos como eles. E nem bajulem a ninguém. Quero dizer: sejam ricos em amor, sucessos e felicidade elevados ao infinito.
Aos que sempre interpelaram-me na rua e nos chapas para apertar-me a mão, que apertem as mãos de todos que encontram na rua. E aos que passaram a vida a arrancar-me o celular, entreguem o meu actual celular eles precisam dele, mais que eu.
Aos invejosos, infelizes da vida: os que sempre esbarraram o meu caminho, sempre que me encontrassem pendurado em um fio, além de salvarem, cortavam-me o fio, desejo o bem.
Aos meus amigos, que sempre batalharam, que lutem mais e transformem as dificuldades em escadas para chegar ao terraço onde mora o sucesso.
As minhas irmãs, que estudem, estudem e estudem. Não se vendam para qualquer desse bando de homens.
Aos meus pais, se em vida ainda estiverem, que façam outro filho que não lhes decepcione como eu tanto o fiz.
Aos meus colegas da faculdade: a esses sim, eu devo o diploma de amizade. Aos escritores moçambicanos, principalmente os mais jovens; companheiros, resta-nos uma grande luta para que se saiamos das gavetas dos nossos quartos e do nosso país. Aos meus professores: o meu tão simples “muito brigado” pelos conhecimentos que muitos desprezaram. Até os que não vos pagam o salário que merecem
Aos jovens desta minha geração tão quadradinha, espero que publicitem mais a mente que os músculos, pois é nela que está a nossa maior força.
Aos artistas moçambicanos, principalmente os músicos, tirando o Herminio e mais alguns, que deixem de confundir auto-estima com arrogância e reconhecimento com fama. Haja humildade!
Aos governantes do meu país, digo: nenhuma guerra é pela paz, assim como nenhuma paz é pela guerra, não nos façam solas dos vossos sapatos e nem vossos objectos controláveis.
Aos que sempre quiseram matar-me, digo: estes morreram muito antes.
Ao Mia Couto, meu ídolo em tudo, que ame mais à Patrícia que a palavra como eu amo mais a Velma que a poesia: ela é que me ama.
Quando eu morrer, antes de enterrarem-me, tirem o meu coração e deem-no em mão à Velma, é todo dela. Por mim, ofereciam-me todo a ela, pois tanto a pertenço.
Quando eu morrer, fiquem como que fosse um mosquito que sempre escapou das vossas palmas.
Quando eu morrer, nada do que poderão fazer, trar-me-á de volta a vida e nem a felicidade pela qual sempre lutei. Quando eu morrer, eu não queria morrer… Queria é me converter em lembrança, por não muito mas alguma coisa que fiz por todos nós. Quando eu morrer, matem-me mais.
Dispenso o vosso respeito e homenagens, pós-morte!
Quando eu morrer, gritem sem receio até nenhum dia, em nenhum lugar, seu filho da puta.
Desculpem-me os erros ortográficos e não só, é que não existe ortografia errada para falar a verdade.
Até já Eduardo White. Estou a caminho. A quem duvida da minha lucidez, eu confirmo agora a sua loucura.
Continua…
*Texto não original.

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